terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Os Oito Odiados (2015) - Quentin Tarantino

Quentin Tarantino é conhecido mundialmente pelo seu excessivo uso de violência, roteiros intrigantes – com direito acenas e citações que ficarão na sua mente – e  personagens marcantes. Sua nova obra é mais um desses casos, e desta vez, mais do que nas outras, ele usa todos os recursos em prol de sua arte. O diretor mostra uma grande evolução em Os Oito Odiados.
Segundo Tarantino, “existe um cordão umbilical desde Cães de Aluguel até este filme.” Em Os Oito Odiados, o diretor não entrelaça apenas roteiros mas traz também elementos de sua direção desde o seu filme de estréia, Cães de Aluguel, até seu último longa, Django Livre. A sequência inicial que apresenta paisagens cobertas por neve, uma imagem de Jesus crucificado, uma carruagem no fundo chegando devagar e o toque da trilha de Ennio Morricone já deixa o espectador com boa sensação sobre o que virá por aí.
O filme é dividido em três atos totalizando seis capítulos. No primeiro ato, são apresentados os personagens: cada um dizendo um pouco sobre si e como foram parar ali, deixando claro(ou não) quem são. O filme pode parecer arrastado em certas partes, e é, talvez um dos únicos defeitos que o longa apresenta. A premissa de Tarantino é simples: oito pessoas suspeitas e perigosas presas com várias divergências em uma cabana com uma nevasca assustadora no lado de fora. Além destes ‘oito odiados’, a nevasca que os confina naquele lugar também pode ser encarada um personagem a parte.
No segundo ato, a ideia do filme começa a se desenhar de maneira mais clara e, apesar de parecer simples, o “andar da carruagem” vai mostrando cada vez mais reviravoltas interessantes, tensões crescentes, um roteiro preciso e detalhes que se você prestar atenção farão todo o quebra-cabeça ser montado bem à sua frente no fim do longa.  As reviravoltas só aumentam, a tensão continua crescente, as atuações vão surpreendentemente melhorando. Em certos momentos você se sente um detetive tentando desvendar o verdadeiro ‘eu’ de cada personagem.
A história passeia por vários gêneros: é um faroeste contendo humor negro; um drama; um grande suspense; e, por fim, o gênero que mais se destaca, o terror psicológico. Tarantino usa novamente a sensação de terror apresentada em À Prova de Morte com trilhas imersivas e arrepiantes.
Segundo Quentin, em sua carreira, depois de Bastardos Inglórios suas obras foram cada vez mais voltadas à literatura do que a direção, sendo um dos motivos para ele estar pensando em deixar a carreira de diretor quando completar dez filmes. Neste longa, em específico, ele deixa isso claro: não temos a mesma dinâmica que Django Livre ou Kill Bill. Tarantino, brilhantemente, deixa o que faz de melhor para seu último e terceiro ato com uma explicação magistral do roteiro seguida dos momentos mais violentos do filme – como já podia se esperar desde o inicio – coroando o longa.
É verdade que alguns atores de grande nome são mal aproveitados e poderiam ter mostrado algo bem melhor – e neste ponto não vejo tantos problemas, é óbvio que Tarantino exploraria mais e daria mais ênfase em certos personagens, e em outros não.
Os destaques no elenco vão para Walton Goggins, quase um protagonista no filme, mostrando que com o diretor correto, pode ser um grande ator; Samuel L. Jackson mostrando sua melhor atuação desde Pulp Fiction; e para a grande Jennifer Jason Leigh(Daisy Domergue) fazendo a melhor atuação de sua vida – indicada ao Oscar – com uma personagem de personalidade asquerosa, esperta e com surtos durante o decorrer do filme.
Outro ponto relevante a ser destacado é a trilha sonora – a primeira original que Quentin usa em um de seus filmes – de Ennio Morricone que, depois de muitos anos, volta a fazer uma trilha perfeita para um Faroeste. Sem dúvidas, merece muito o prêmio da Academia.
Se você é fã do diretor, esse filme será um prato cheio pois é o filme mais “Tarantinesco” de toda sua filmografia, isto é, aquele que mais mostra a essência do aclamado diretor. Não espere um Bastardos Inglórios, Django Livre ou Kill Bill pois esta obra é mais voltada ao roteiro do que a dinâmica – assim como Jackie BrownCães de Aluguel e Pulp Fiction.
Nota do Crítico: 5/5

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