terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Resenha - A Piada Mortal (Graphic Novel)

“Eu só estou tentando provar um ponto…”  diz Coringa ao ser questionado por quê está fazendo tudo aquilo. Um homem decente e incorruptível pode se transformar em um insano depravado após ter apenas um dia ruim? É exatamente o questionamento que A Piada Mortal e seu personagem principal tentam transmitir para seus leitores.
Em 1988 a DC Comics publicava uma graphic novel escrita pelo maestro Alan Moore – que viria a se tornar um dos maiores nomes no mundo das HQs com as obras V de Vingança e Watchmen, desenhada por Brian Bolland e originalmente colorida por John Higgins. Um elenco magistral que ficaria até difícil não apostar em algo incrível.
graphic arrisca em tentar demonstrar a origem do Coringa – uma ideia que Moore não gostou de ter escrito. Para ele, a origem do Coringa é um dos grandes méritos do personagem, não entendermos de onde ele surgiu – e porque ele é o que é. De certa forma eu até concordo com Moore, o Coringa é um personagem misterioso, revelar sua origem não parece ser uma ideia tão boa assim. Porém, a forma em que a origem é trabalhada em conjunto com a história presente é incrível, posso até contrariar o escritor e dizer que sim, foi uma grande ideia.
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As primeiras páginas da graphic mostram Batman chegando à uma penitenciária e indo até a cela do Coringa, e Batman diz ao palhaço que ambos acabarão se matando algum dia, pois Batman está cansado de prendê-lo, e ele sempre surpreender fugindo da prisão e fazendo coisas cada vez piores. O diálogo é pertinente e virá a ser importante.
Destaque para o primeiro quadro da imagem onde vemos um frame focalizado no chão junto com os pingos da chuva.
O roteiro de Alan Moore é – como sempre – genial. A forma que ele alterna e faz paralelos com a história presente e o passado (origem do Coringa) é incrível, relembrando até a cena do velório do Comediante em Watchmen. Ele leva e absorve a mente do Coringa e como suas ações afetam as pessoas ao seu redor. A versão de Moore do palhaço é uma das mais sádicas e cruéis da história do personagem.
O Batman trabalhado por Moore não foge muito do comum, porém, desta vez temos um Batman que está cansado de continuar brincando de gato e rato com o Coringa, afinal, todos sabemos que ele o assassina no final desta história, algo que ainda traz várias controvérsias entre as opiniões dos leitores, porém, fica claro que o Batman de fato mata o Coringa no final.
Em uma das cenas emblemáticas de A Piada Mortal o Coringa – no começo da tentativa de provar seu ponto – atira cruelmente na Batgirl, ou Barbara Gordon. Veja na imagem abaixo:
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A ideia principal do Coringa é tentar transformar o Comissário Gordon em um homem insano, e com isso provar que qualquer homem – não importa o quão são essa pessoa seja – possa se transformar um um louco do dia para noite apenas experienciando um dia ruim. Para isso, precisa promovê-lo um dia ruim. Tudo começa com o palhaço comprando um circo, depois um tiro em Barbara e por último levar Gordon para o circo e tentar transformá-lo lá. E obviamente com o Batman de espectador, afinal, qual seria a graça se não houvesse o morcego de espectador?
A arte de Brian Bolland é maravilhosa, na versão original o colorista era John Higgins então era tudo mais colorido, cores bem fortes e bem vivas, porém, na versão de Luxo, Brian também foi o colorista e parece que entendeu mais a atmosfera da história. Na versão de luxo é tudo mais escuro, com cores sombrias e uma paleta de cores sem vida, cai como luva para o enredo.
Em outra cena memorável de A Piada Mortal é obviamente retratada a origem do Coringa, desta vez peguei uma página da versão original, veja como é diferente:
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A origem do palhaço envolve um roubo na empresa em que trabalhava no qual ele aceitou participar junto com outros bandidos pois estava desempregado e precisava de dinheiro para sustentar sua mulher, porém, um dia antes do roubo, sua mulher morre em um acidente. Ele tenta cancelar dizendo que não há mais motivação para fazer aquilo, porém, os bandidos não aceitam isto e o ameaçam caso ele desista. Após a tentativa de roubo, policiais do local descobrem e vão atrás de todos, até que o Coringa cai dentro de um tonel de ácido da empresa em que ele trabalhava, e assim surge o personagem insano com uma das imagens mais famosas da história das HQs e Graphic Novels (visto acima).
Chegando no desfecho, temos uma “batalha final” corpo a corpo entre o Coringa e o Batman. Antes do Batman ir para a briga o Comissário reforça “Prenda-o, mostre pra ele que nosso jeito funciona. Pela lei!”. Em um certo momento o Coringa começa a rir, e se lembra de uma piada, “Escute só, tinha dois caras num hospício… Uma noite, eles decidiram que não queriam mais viver lá… e resolveram fugir! Aí, foram até a cobertura do hospício e viram, ao lado, o telhado de outro prédio apontando pra lua… Apontando para a liberdade. Então, um dos sujeitos saltou sem problemas pro outro telhado, mas seu amigo acovardou… Ele tinha medo de cair, sabe? Aí o primeiro cara teve uma ideia. Ele disse… ‘Ei! Estou com minha lanterna aqui. Vou acendê-la sobre o vão dos prédios e você atravessa pelo fecho de luz.’ Mas o outro cara sacudiu a cabeça… e disse… ‘O quê? Você acha que eu sou louco?! E se você apagar a luz quando eu estiver no meio do caminho?”.
E ambos caem na risada, o Coringa, mesmo fazendo algo tão terrível com o Gordon e no meio de uma briga com o Batman, para, começa a rir e pensa em uma piada. É neste momento em que o próprio Batman percebe que sempre será daquela forma, ele sempre agirá de forma “correta” e prenderá o Coringa mas mesmo assim ele continuará fugindo, e eles continuarão brigando e que o “jeito” correto que o Gordon apontou já não é mais eficiente. E então o Batman resolve finalizar aquele ciclo, assassinando o Coringa. Veja:
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Destaque novamente para o frame final da última página da graphic que é idêntico ao primeiro da primeira página.
A Piada Mortal é sem dúvidas um marco e uma gigantesca influência para a história das HQs e Graphic Novels. Alan Moore, Brian Bolland e John Higgins juntaram-se no projeto e conseguiram transmitir uma das melhores histórias do Batman já feitas. Se você é um leitor de quadrinhos e ainda não leu A Piada Morta, faça um favor a si mesmo e leia.

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