terça-feira, 17 de janeiro de 2017

True Detective - Segunda Temporada (Crítica)

True Detective foi um grande estouro no mundo das séries em 2014 trazendo uma história incrível, ótimas atuações, roteiro impecável e produção totalmente comprometida com o projeto. Em 2015, a HBO e o criador Nic Pizzolatto confirmaram a segunda temporada tão esperada pelos fãs, Mas com algumas diferenças: desta vez com 4 protagonistas, sem o diretor principal – Cary Fukunaga -, uma história nova, e também com um período de produção bem menor do que a primeira. Como sempre, o dinheiro fala mais alto do que o comprometimento em entregar ao excelente aos espectadores.
Após uma grandiosa primeira temporada era inevitável a expectativa ser alta para a segunda temporada, porém a maioria dos fãs e a crítica consideraram um fracasso. Discordo! É claramente visível que seria impossível o criador fazer algo tão bem feito quanto na primeira, afinal, o tempo que Nic teve para escrever a segunda foi muito inferior ao da primeira. O maior erro dos fãs foi esperar a mesma coisa que viram em 2014.
Na segunda temporada, os protagonistas são 4 personagens, Ray Velcoro, Ani Bezzerides, Frank Semyon e Paul Woodrugh, interpretados por Colin Farrell, Rachel McAdams, Vince Vaughn e Taylor Kitsch, todos com grandes sucessos e com nomes garantidos no cinema. A história envolve um assassinato de uma pessoa muito importante na cidade de Vinci, e acaba refletindo e envolvendo todos os personagens principais, enquanto a primeira temporada foca na força do espírito, satanismo, cultos, e até forças sobrenaturais. A segunda temporada foca em algo mais pé no chão, mais simples. Uma das grandes mudanças para a segunda temporada foi a ausência do diretor elogiado Cary Fukunaga, que ficou apenas como produtor executivo. Contudo, a série continua com vários elementos da primeira temporada como frames amplas, fotografia sem cores vivas, trilha sonora depressiva, etc. Não perde a essência que a primeira temporada traz, mas ainda assim consegue ser muito diferente em vários aspectos.
As atuações dos 4 atores principais é talvez o forte da temporada e arrisco a dizer que é a melhor atuação da vida dos respectivos atores, onde todos levam um peso emocional gigantesco para seus personagens com destaques para Rachel McAdams que rouba a cena com um papel muito diferente do que os frequentes em sua carreia, e Vince Vaughn que costuma fazer papéis cômicos e na série faz um gângster que raramente sorri. Colin e Taylor também não decepcionam, ambos conseguem transmitir e convencer os momentos de tensão, tristeza e poucas vezes alegria. Esse peso emocional gigantesco é explorado ainda mais nas expressões faciais, o que exige um certo comprometimento a mais dos atores. O restante do elenco também é bem escolhido e um grande mérito da série é dificilmente ter atuações medianas ou ruins.
A direção ficou na mão de vários profissionais ao longo da temporada e o único mais conhecido entre eles é Justin Lin (diretor recorrente na franquia Velozes e Furiosos). Talvez um dos erros, pois a continuidade é diferente por mais que Nic esteja presente como produtor e roteirista. Cada diretor tem uma visão do que vai fazer naquele respectivo episódio e isso pode ser um problema. Ao longo da série vemos um roteiro muito bem escrito mas com pequenos problemas e a história não é tão envolvente quanto a primeira possivelmente pela complexidade, e algumas vezes ela fica até confusa. São muitos personagens principais para apenas uma mini-série, e isso é um problema pois um personagem como Paul Woodrugh poderia ter sido mais explorado, todavia, muitas vezes ele é jogado na trama sem muitas histórias o envolvendo e não contém tanta profundidade quanto deveria.
A temporada é repleta por reviravoltas, referências visuais a grandes diretores, como por exemplo, o estilo de direção/fotografia de David Lynch em Veludo Azul, na cena do sonho de Velcoro no episódio 3. Ou a homenagem ao clássico de Lynch Mulholland Drive (Cidade dos Sonhos) em uma das cenas nas ruas. Um dos fortes da segunda temporada são as cenas que se passam no bar, onde a fotografia é extremamente melancólica. Uma cantora (Lera Lynn) no palco cantando músicas depressivas e um foco em dois personagens na ruína de suas vidas, geralmente com uma garrafa de Blue Label representando isso. Uma grande homenagem ao noir. Outro grande destaque é a trilha sonora, extremamente bem feita e apropriada para a série por T-Bone Burnett – que também esteve presente na primeira -, e Lera Lynn, que faz até participações ao longo da série. É incrível como mesmo com pouco tempo e maior pressão, Nic Pizzolatto assumiu a responsabilidade e levou a segunda temporada nas costas acreditando em seu material até o fim.
Esqueça os críticos e a maioria das pessoas que reclamaram da segunda temporada pois esta é extremamente bem produzida, bem escrita, com atuações incríveis, trilha sonora magnífica e fotografia impecável. Eu considero uma das melhores séries da atualidade, e não vejo a hora de assistir a uma terceira temporada. Muitas vezes a expectativa pode estragar com a experiência que você terá em qualquer situação, portanto o maior conselho é não esperar a “primeira temporada parte 2”, lembre-se, afinal, que é uma nova pegada, novos personagens, nova história e divirta-se, tente extrair o máximo que conseguir e garanto que não irá se decepcionar.

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