terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Rua Cloverfield, 10 (2016) - Crítica


Em fevereiro de 2008 estreava nos cinemas o longa Cloverfield – Monstro, um filme focado em misturar o gênero found footage com destruição em massa e sci-fi. No início, tinha o rótulo de ser mais um longa supérfluo sobre destruição e aliens e não haviam dicas ou ganchos para uma franquia ou continuação do filme, até que recentemente – novamente com a produção de J.J. Abrams – foi confirmado um “spin-off” ou “continuação” ao filme de 2008, o que causou grande alvoroço entre os fãs dos primeiros filmes e uma certa curiosidade para ver que caminho iriam seguir com o novo longa.
Se você, como fã, pretende assistir Rua Cloverfield, 10 esperando a mesma pegada ou ideia do primeiro filme, não vá. O longa, ao contrário da primeira experiência, aborda vários elementos como controle, obsessão, perda, terror, imaginação, etc. Rua Cloverfield está longe e perto ao mesmo tempo de seu primeiro filme: a essência do novo longa é o terror psicológico, focando na tensão do início ao fim e a busca pelo desconhecido. Enquanto o primeiro filme cai para o lado de títulos sobre apocalipse como 2012, o novo faz mais um estilo O Quarto de Jack, porém, contém elementos interligados com o longa que o antecedeu.
Rua Cloverfield, 10 aborda a história de Michelle – interpretada brilhantemente por Mary Elizabeth Winstead – que é apresentada em uma discussão com seu namorado e resolve deixá-lo e seguir sua vida. A garota sofre um acidente e acorda presa em um porão onde Howard (John Goodman) lhe informa que o mundo agora está inabitável após uma explosão e que está tentando salvar a vida da garota ao mantê-la presa em sua casa.
Analisando Rua Cloverfield, 10 como um filme solo, sem a influência ou tentativa de conectar com seu filme anterior, é um clássico instantâneo, desde o gênero terror até o suspense. O diretor novato Dan Trachtenberg trabalha de uma forma excelente todos os conceitos apresentados, os cenários dentro do ambiente foco são trabalhados de uma forma que facilita o nosso conhecimento do local sem ao menos estarmos presentes e isso é um grande mérito. A forma como a direção consegue nos colocar ao lado da personagem principal desde a sua busca pela saída até sua busca por saber o que realmente está acontecendo é exuberante. Vale destacar também o bom trabalho na tentativa de entender as camadas de profundidade que Howard apresenta durante o longa. É até espantoso pensar que o diretor não tem obras conhecidas e conseguiu fazer algo tão excelente.
John Gallagher Jr. interpreta o personagem Emmet – que está trancafiado junto a Michelle na casa de Howard – e não há muito o que falar, afinal, qualquer ator com sua idade poderia ter transmitido o mesmo que Gallagher transmitiu. John Goodman – como sempre – trabalha brilhantemente em um personagem totalmente profundo e composto por dois lados: o lado calmo/educado e o lado evasivo,explosivo e pouco flexível. Você nunca prevê o que o personagem irá fazer.
O grande destaque vai para Mary Elizabeth desde sua primeira cena até a última. A atriz demonstra um trabalho impecável e outra ideia brilhantemente trabalhada é o machismo e como afeta as mulheres. Michelle sente o peso por ser uma mulher presa com dois homens desconhecidos em uma casa que desconhece – uma metáfora ou analogia com o que acontece com muitas mulheres hoje em dia. A trilha sonora é bem trabalhada em certos momentos e em outros parece deslocada e você percebe que ela está apenas ali para tentar arrancar sustos dos espectadores.
Talvez o único problema do filme seja o marketing acima da obra e a inevitabilidade de conexão com seu filme anterior: os últimos 15 minutos transformam totalmente o filme e dão a impressão de que é sim uma continuação de Cloverfield e o mistério tão bem trabalhado é despejado na tela de vez quando o terror psicológico muda para um terror de fato presente.

Nota do crítico: 4/5

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