O novo longa do diretor Nicolas Winding Refn (Bronson; Drive; Apenas Deus Perdoa), The Neon Demon estreou nos cinemas do Brasil no dia 29/09 deste ano, porém, vêm trazendo controvérsias e discussões desde que foi exibido – e vaiado – em Cannes, no mês de maio. Além disso, o filme trouxe polêmicas acerca de seu conteúdo, como a necrofilia e o canibalismo – ou no caso, antropofagia. Porém, percebi que muitos reclamaram do desfecho do filme ou alegaram que as respectivas cenas são desnecessárias ou que Refn está apenas tentando “causar” (como se isso fosse algo ruim). Bom, usarei essa matéria para tentar abrir a mente das pessoas que não gostaram do final ou que até não entenderam o motivo do que aconteceu.
Cuidado, abordarei o desfecho do filme, portanto, contém SPOILERS.
Qual o significado de Antropofagia? Segundo o site “Significados”: do grego anthropophagía (“anthropo” = “homem” e “phagía” = “comer”), é o ato de um antropófago, o indivíduo que come carne humana, também chamado de canibal. E segundo o dicionário: s.f. – Condição, particularidade ou ação de antropófago; característica de quem come carne humana; canibalismo.
Mas afinal, o que há por trás do simples “canibalismo” em The Neon Demon? Qual é o intuito de Ruby, Gigi e Sarah ao literalmente comerem Jesse?
Para responder isso, usarei a antropofagia abordada pela tribo indígena Tupinambás do Brasil e por algumas seitas religiosas. O intuito da antropofagia abordada pela tribo é simples: Os índios praticavam o ato antropofágico como parte de um ritual de guerra. Eles consumiam a carne dos guerreiros adversários com o objetivo de “absorver a bravura e coragem” do inimigo. Ser comido era considerado uma das formas mais honráveis de morrer, porque significava que o guerreiro era considerado corajoso e tinha o espírito forte.
Já o abordado pelas seitas consiste em simplesmente a absorção da “alma” do indivíduo que está sendo comido. E desta forma, absorver tudo aquilo “de bom” que o indivíduo possuía, como sua beleza, sua força, suas riquezas, etc.
Um dos momentos emblemáticos do filme é a cena em que Sarah tenta beber o sangue de Jesse, o que já nos remete ao assunto abordado na matéria.
No desfecho do filme Refn utiliza a antropofagia histórica que pode ser interpretada como ambas situações, tanto a abordada pela tribo Tupinambá, afinal, o mundo da moda pode ser simbolizado como um campo de guerra pela grande concorrência e obsessão por notoriedade e “vitória”. Quanto à abordada pelas seitas religiosas, quando temos frames que mostram Ruby despida e é possível ver tatuagens peculiares cheias de simbolismos sobre seu corpo.
Ambas encaixam pois no final o fotógrafo que sentiu algo diferente ao trabalhar com Jesse, observa esse ”algo a mais” (citado no filme) em Sarah, e a própria percebe que o que ela fez, teve diferença em seu universo.
Vale ressaltar: Ruby demonstra ter uma auto-confiança grande desde o começo do filme, além de se demonstrar “acostumada” com a situação da Antropofagia realizada. Veja na imagem abaixo um simbolismo em forma da figura do lobo logo atrás de Ruby, remetendo a ideia de que ela é a “líder” da alcateia.
Cito as palavras do próprio Refn: “A arte não é mais sobre ‘bom’ ou ‘ruim’ pessoal, isso é para a comida japonesa que você comeu ontem à noite. A arte é sobre ter reações, e reações são a essência da experiência. E no final é isso que conta. Se você não reagir, o que você está fazendo?” O longa The Neon Demon não é uma obra-prima de se aplaudir, porém, causa reações. Além de abordar filosofias históricas, modernizá-las e ser um projeto extremamente autoral e original (por mais que a história da garota inocente que acaba se corrompendo pelo mundo que vive ser clichê), a forma que Refn aborda é inovadora. É possível ver a assinatura do diretor em cada plano.
É esse o intuito das análises, quem sabe após ter a oportunidade de perceber todos os simbolismos e filosofias usadas pelos cineastas responsáveis pelo filme, a experiência se torne mais interessante dá próxima vez que for assistir.
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