terça-feira, 17 de janeiro de 2017

The Neon Demon (2016) - Crítica



“Beleza não é tudo. É a única coisa” é a frase que pode resumir o novo longa-metragem de um dos diretores mais comentados no mundo hoje: Nicolas Winding Refn. Nicolas recebeu maiores holofotes – apesar de já ter dirigido o ótimo Bronson em 2008 – com o filme Drive. O longa foi exibido em Cannes e recebeu maioria de críticas positivas, o que fez produtoras e a própria Hollywood olhar Refn com outros olhos, talvez tenha até sido a intenção do diretor.
Assim como a maioria dos diretores quando ganham reconhecimento e, consequentemente, recursos, aproveitam para fazer o que bem entendem da forma que quiserem, desta forma nasceu Apenas Deus Perdoa (longa de Refn antes de The Neon Demon). No qual o diretor comete um erro que já havia cometido em Bronson: foca na direção e estética e esquece do roteiro ou o faz de maneira ruim. Ele comete quase o mesmo erro em The Neon Demon, porém, diferente de Apenas Deus Perdoa, a mensagem deste longa fica clara desde o primeiro frame do filme.
Analisando tecnicamente, The Neon Demon é perfeito desde sua fotografia até a precisa direção de Refn. A fotografia é composta por neon (como o título já indica) com frames abertos, ousados e que conseguem transmitir em certos momentos uma sensação claustrofóbica e em outros uma sensação deslumbrante de tão belos. A paleta de cores também é utilizada para demonstrar a personalidade de cada personagem, por exemplo, Ruby usa roupas de cor preta e vermelha, que nos remete à morte e violência. Já a Jesse, usa roupas em tons claros, desde roxo, rosa até azul e branco, demonstrando a inocência da garota. O diretor sabe manipular seu espectador trabalhando de forma excelente – e até melhor de que seus filmes anteriores – o recurso do neon, com cores ainda mais chamativas e vivas, destaque para a cena da festa, que você não consegue tirar os olhos da tela. A beleza é o foco do filme em todos os sentidos e Nicolas usa isso em prol de sua arte.
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A trilha sonora possui o selo “Winding” de aprovação com batidas eletrônicas e uma pegada futurística. Bem usada apesar de estar em certos momentos deslocada, como exemplo, em uma cena em que Jesse está deitada, Refn vê a necessidade de usar uma trilha animada e realmente nos tira da harmonia do momento. Apesar disso, no geral a trilha cai como luva pela atmosfera futurista e tecnológica do filme.
Entre as atuações, o destaque único vai para Elle Fanning. A demonstração de inocência que logo se transforma em uma imponência é algo que exige altos níveis de interpretação. O resto do elenco entrega o “esperado”. Nada excepcional surge de Jena Malone ou de Abbey Lee, afinal, seus personagens não exigem nada demais. O astro Keanu Reeves está em um papel minimalista que não traz tanta importância assim para a história. Aliás, esse é um dos maiores problemas de Refn, adicionar personagens em seus longas que parecem ter um arco a se formar, mas depois de 15 minutos em cena, simplesmente some do filme sem mais nem menos. Talvez Keanu esteja em The Neon Demon apenas para Refn utilizar seu nome como marketing.
O roteiro (talvez o ponto fraco) tem seus pecados de prache, Refn foca na direção e estética (como dito e citado anteriormente) e esquece ou prefere não focar nos diálogos do filme. De certa forma isto é algo ruim, porém, Refn que apesar de pecar em não usar tantos diálogos para demonstrar seu ponto de vista ou o ponto dos personagens, o diretor foca no teor psicológico das personagens principais em como elas lidam com acontecimentos presentes, desde sonhos e demonstrações físicas até alucinações.
A crítica social que Refn transmite é um espetáculo: como a obsessão da maioria das pessoas por beleza as leva a patamares desastrosos e como a indústria da beleza funciona e como é presente o julgamento e a insanidade – e até onde ambas coisas levam o ser humano. Certas cenas podem ser consideradas desnecessárias ou forçadas, embora acredito ser simplesmente a intenção do diretor de demonstrar até onde nós somos levados e influenciados pela sociedade que prega o padrão de beleza que é ainda mais reforçada pela indústria cinematográfica.

Nota do Crítico: 4/5

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