terça-feira, 17 de janeiro de 2017

“Ela”: questionamentos e reflexões sobre relações sociais

Em 2013 fomos apresentados ao novo longa escrito e dirigido por Spike Jonze – diretor conhecido por Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Onde Vivem Os Monstros – que trazia uma proposta interessante: um homem sozinho após o término de um relacionamento duradouro e com tendências à anti sociabilidade que conhece um novo programa à venda, isto é, um sistema operacional que possui inteligência artificial e que com o tempo aprimora sua capacidade de relação e de “possuir” uma personalidade própria.
Quando é posto dessa forma, até aparenta ser um enredo simplista, mas não. “Ela” tem metáforas, reflexões, questionamentos, quebra de tabus, crítica social, etc. Lembrando que neste artigo contém spoilers sobre o filme e que é apenas uma interpretação própria.
O mundo se relacionando cada vez mais com as máquinas
Por mais que esteja óbvio a afirmação acima, Jonze traz a reflexão/metáfora de forma maravilhosa. Um homem que se apaixona e acaba tendo uma relação amorosa com um produto tecnológico. Não é exatamente o mundo em que estamos vivendo atualmente? Com várias mídias sociais, avanços na tecnologia, jogos que misturam a realidade com o mundo virtual, fica claro que a absorção e alienação dos produtos tecnológicos estão cada vez piores, a ponto de termos relações melhores olhando para as telas de nossos celulares do que para os olhos de outras pessoas. O longa mostra isso!
Conforme o tempo passa vai agravando ainda mais essa tendência, as relações sociais ficam menores e consequentemente a sociedade fica – ironicamente – mais anti-social. Porém, a cada momento de interação social nas ruas, por exemplo – mostrado brilhantemente por Jonze em sua direção – o foco vai nas pessoas que no começo do filme passavam despercebidos conversando com outras pessoas, no seu segundo e terceiro ato as pessoas estão apenas olhando para os “celulares”. Veja um exemplo nas imagens abaixo:
juntos
Na primeira imagem vemos uma cor mais lúcida, viva, com pessoas interagindo no fundo.
sozinhos
Já na segunda imagem algo mais melancólico, com cores mais frias e com pessoas menos interativas. É claro que usei um exemplo dentro da história de ficção do filme, porém, as imagens mostram exatamente o que o diretor quis demonstrar.
Toda forma de amor é válida
Um assunto polêmico é a ideia retrógrada e ultrapassada de que o amor é válido apenas quando são homens e mulheres na relação ou quando se usa o argumento infantil “Deus criou Adão e Eva e não Adão e Ivo”. Outro mérito e reflexão de “Ela” é a forma espetacular de como combatem essa ideia. A demonstração de que um homem e um aparelho tecnológico que possui personalidade e condições de vivência podem ter um relacionamento, amar um ao outro e até pensarem em um futuro juntos é algo tão absurdo? Obviamente que estou usando um exemplo de ficção, mas é exatamente pela ficção que Jonze faz esse protesto, simplesmente com a ideia de mostrar que todas as formas de amor são válidas e que não cabe a sociedade, igreja ou político ter que definir isso.
Além de um filme excelente em sua fotografia, direção, roteiro e atuações, “Ela” traz reflexões importantes, pensamentos profundos, diálogos pertinentes e uma redenção de Jonze em criar um romance diferente do clichê. Tudo isso torna o longa uma obra imprescindível e obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze.

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